Música e terapia: Uma história de superação no CAPS II

Rafael Henrique de Melo

Aos 33 anos, o araçatubense Rafael Henrique de Melo vive hoje o que chama de “vida nova” — e não apenas pelo título da música que compôs, mas por tudo o que representa sua trajetória de superação.

Usuário do CAPS II (Centro de Atenção Psicossocial), antigo Ceaps (Centro Especializado em Atenção Psicossocial), Rafael compartilha uma história marcada pela depressão, pela dor da separação dos filhos, por tentativas frustradas de tratamento e, mais recentemente, pela redescoberta da música, do trabalho e da própria identidade.

“Eu já venho há seis anos lutando contra a depressão. Já passei por outro tratamento, mas nunca tive sucesso”, conta Rafael, com franqueza. Foram idas e vindas, tentativas de ajuda que não davam certo. A virada aconteceu em um dos momentos mais difíceis de sua vida: quando sua ex-companheira se mudou para outra cidade levando os filhos.

“Meu mundo caiu. Eu falei: ou eu acordo, ou os meus filhos vão me ver cada vez pior”, lembra. Foi a partir dessa dor que surgiu a coragem para tentar, mais uma vez, com um novo olhar. Pediu ajuda e se comprometeu com todo o processo. Rafael passou a ser atendido no CAPS II. Foi ali que decidiu realmente se permitir o cuidado: “Comecei a aceitar todos os conselhos, por mais difíceis que fossem de ouvir. E fui trazendo aquilo para a vida. Poxa, dá pra eu mudar”.

Reencontro com a música

Um ano depois, a ansiedade, o desânimo, o isolamento, a baixa autoestima e os pensamentos destrutivos já não dominam seus dias. “Hoje eu me sinto bem melhor, bem mais tranquilo. No começo, era um sacrifício até sair de casa. Mas eu vinha, porque sabia que precisava mudar.”

Atualmente, Rafael está de alta da terapia, mas continua comparecendo ao CAPS II por um motivo muito especial: a música. A oficina de música tem sido uma das ferramentas mais importantes nesse processo. “A música sempre esteve presente na minha vida, desde os oito anos, quando eu cantava na igreja. Mas quando adoeci, parei. Sabia que a música tinha poder de cura, e isso me assustava.”

No início da atividade, ele mal abria a boca. Aos poucos, foi voltando a cantar, a criar, a tocar. Hoje, além de cantar novamente na igreja, Rafael gosta de compor. Durante a depressão, descobriu uma nova habilidade: escrever letras. “Nunca imaginei que conseguiria. Mas foi em um momento muito crítico que escrevi minha primeira música: Vida Nova.”

A canção surgiu como uma oração, depois de reencontrar um primo que enfrentava uma doença grave com coragem e fé. “Eu vi ele sorrindo, levando Deus para os outros no hospital. E eu, parado, sem conseguir sair do lugar. Peguei o violão, comecei a dedilhar e as palavras vieram.” O primo faleceu pouco depois, mas a música ficou como marco de um recomeço.

Há pouco mais de um mês, Rafael voltou a trabalhar — depois de seis anos afastado. “É o início de uma nova fase. E eu vou continuar presente em tudo que for preciso aqui também.”

Seus olhos brilham quando fala sobre os planos e sobre o impacto que deseja causar na vida de outras pessoas. “A gente acha que ninguém tá ouvindo, que ninguém tá por perto. Mas tem alguém. E tem como recomeçar.”

A letra que ele considera mais bonita, e que resume bem a sua caminhada até aqui, começa assim:

“Não pense que acabou. Não pense que terminou.
Não é porque estou em silêncio, que a minha oração aqui não chegou.