
A dependência química deve ser entendida como um problema de saúde e não como resultado de “falta de caráter” ou “vergonha na cara”. O alerta é da psicóloga Luana Russo Scardovelli, profissional do CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e outras Drogas) de Araçatuba, que reforça a importância de combater o estigma e ampliar o acesso à informação e ao tratamento.
Os dados confirmam a dimensão do problema. O Relatório Mundial sobre Drogas 2022, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), aponta que cerca de 284 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos usaram drogas em 2020 — um aumento de 26% em relação a dez anos antes.
No Brasil, a realidade também preocupa: segundo o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou, apenas em 2021, 400,3 mil atendimentos relacionados a transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool. A maior parte dos pacientes era formada por homens jovens, entre 25 e 29 anos.
De acordo com a psicóloga, o consumo abusivo de álcool e outras drogas traz impactos diretos na saúde, no trabalho, nas relações familiares e sociais. Muitas vezes, o primeiro contato com a substância acontece como uma tentativa de aliviar dores emocionais, como ansiedade, depressão ou traumas. Porém, em vez de solucionar, o uso agrava essas questões e pode desencadear novos transtornos.
A importância da terapia
“Há casos em que o abuso de substâncias pode abrir quadros de esquizofrenia, intensificar sintomas de ansiedade ou depressão e gerar transtornos relacionados ao álcool e outras drogas”, explica Luana.
Para enfrentar essa realidade, o acompanhamento psicológico desempenha papel central. A psicóloga destaca que o processo terapêutico busca resgatar a identidade da pessoa além do uso da droga, reconstruindo laços sociais, fortalecendo vínculos familiares e redescobrindo fontes de prazer na vida cotidiana.
“Muitas vezes, o único prazer do paciente está ligado ao uso da substância. A terapia mostra que é possível encontrar novos sentidos, retomar amizades, vínculos de trabalho e lazer”, afirma.
Recuperação é possível
O CAPS-AD de Araçatuba funciona 24 horas por dia, em regime de portas abertas, sem necessidade de agendamento prévio. O serviço oferece atendimento psicológico, psiquiátrico, oficinas terapêuticas e grupos de apoio. Segundo a profissional, é feito um plano terapêutico que considera as necessidades do usuário e as potencialidades. “É fundamental reforçar: a recuperação é possível”, ressalta.
Outro ponto essencial é o apoio familiar. O tratamento envolve não apenas o indivíduo, mas também a rede de relações ao seu redor. “O uso fragiliza a família e os laços sociais. Por isso, trazemos os familiares para perto, explicamos o processo e os incluímos no cuidado. A família, os amigos, até as relações cotidianas – como o vizinho ou o colega do café – podem se tornar parte dessa rede de apoio”, completa.
Sobre a Zatti Saúde
A Zatti Saúde é uma filial da Missão Salesiana de Mato Grosso (MSMT), que atua no gerenciamento de serviços essenciais de atendimento à população, em conjunto com a Prefeitura de Araçatuba.
O convênio com a Administração Municipal foi firmado neste ano, com o objetivo de prestar serviços na RAPS e na APS (Atenção Primária à Saúde).