
A dependência emocional é um quadro que merece atenção especial, pois pode estar diretamente relacionada à ideação suicida, podendo levar, inclusive, ao uso de substâncias psicoativas.
O alerta, que faz parte de uma série de conteúdos da Zatti Saúde, visando fortalecer a campanha Setembro Amarelo, é da psicóloga Patrícia Umeda Dessotte, do CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e outras Drogas), de Araçatuba.
Segundo a profissional, a dependência emocional surge quando a pessoa passa a acreditar que precisa do outro de forma essencial para viver. Esse padrão costuma se apresentar após experiências traumáticas, como abandono, ausência paterna ou relacionamentos abusivos.
“O paciente vai construindo essa crença de que precisa da outra pessoa de forma vital, perdendo a própria identidade e vivendo em função do parceiro”, explica.
Risco
De acordo com Patrícia, frases como “não vivo sem ele/ela” ou ameaças contra a própria vida diante da possibilidade de rompimento são sinais claros de dependência emocional. Nesses casos, a ideação suicida aparece como uma consequência da perda de sentido em si mesmo.
“Quando a pessoa acredita que sem o outro não consegue viver, o risco aumenta. Ela passa a achar que, se perder esse relacionamento, não terá mais motivo para continuar”, pontua.
Vínculo com a dependência química
O cenário se torna ainda mais delicado quando o sofrimento emocional encontra no álcool ou nas drogas uma válvula de escape. A psicóloga destaca que muitos pacientes recorrem a substâncias como forma de “anestesiar” a dor.
“Eles têm muita dificuldade em lidar com frustrações. Então, o álcool e as drogas surgem como uma tentativa de fugir dessa realidade. Muitas vezes, acreditam que ingerindo grandes quantidades vão se livrar do medo ou da dor da perda”, afirma.
Esse uso pode, em alguns casos, desencadear uma dependência química. “A dependência emocional pode provocar a dependência química, e aí a pessoa se vê em um vício profundo, o que aumenta ainda mais o risco de ideações suicidas”, completa.
Caminhos para o tratamento
O tratamento, segundo Patrícia, passa principalmente pela psicoterapia, que auxilia na reconstrução da identidade e da autoestima do paciente. “A terapia ajuda a resgatar a própria identidade e a enxergar que o indivíduo já possui as peças necessárias dentro de si para seguir a vida. É como um quebra-cabeça: a pessoa acredita que precisa do outro para se completar, quando na verdade já tem tudo, só precisa se reorganizar”, explica.
Além de prevenir a ideação suicida, o acompanhamento psicológico é fundamental desde os primeiros sinais de dependência emocional. “Esse quadro já pode levar à depressão, que também é grave. Por isso, quando a pessoa percebe que precisa do outro de forma tóxica, já é indicado procurar terapia”, orienta.
Quebrando tabus sobre a psicoterapia
Por fim, Patrícia reforça a importância de derrubar preconceitos em torno do cuidado psicológico. “Muita gente ainda acredita que a psicoterapia é só para quem tem problemas mentais graves, mas não é assim. Todos nós deveríamos passar por esse processo de autoconhecimento para lidar com as frustrações e preservar nossa saúde mental.”
O CAPS-AD
O CAPS-AD de Araçatuba funciona 24 horas por dia, em regime de portas abertas, sem necessidade de agendamento prévio. O serviço oferece atendimento psicológico, psiquiátrico, oficinas terapêuticas e grupos de apoio e está localizado na rua Bastos Cordeiro, 1051, no bairro Santana.
Sobre a Zatti Saúde
A Zatti Saúde é uma filial da Missão Salesiana de Mato Grosso (MSMT), que atua no gerenciamento de serviços essenciais de atendimento à população, em conjunto com a Prefeitura de Araçatuba.
O convênio com a Administração Municipal foi firmado neste ano, com o objetivo de prestar serviços na RAPS e na APS (Atenção Primária à Saúde).